Publicado em
16/05/2025
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Desde escândalos como o Mensalão até as repercussões da Lava-Jato, as empresas brasileiras passaram a operar em um cenário de vigilância constante, onde os riscos de corrupção, lavagem de dinheiro e má gestão fiscal são ameaças recorrentes.
O que é necessário fazer a partir desse cenário: um programa de compliance financeiro, que vá além da formalidade e transforme cultura em prática.
Mais do que evitar sanções ou mitigar multas, o compliance financeiro é uma ferramenta de confiança. Confiança para o investidor que analisa balanços, para o consumidor que acompanha a reputação da marca, para o colaborador que atua com ética e até para o próprio mercado, que hoje penaliza a opacidade com o mesmo peso que ignorava seus sinais anteriormente.
O seu maior desafio é fazer com que o compliance deixe de ser “mais um departamento” e passe a ser parte da tomada de decisão.
Isso só é possível quando ele está estruturado em pilares que unem liderança, gestão de riscos, transparência e educação, mas para isso precisa ser visto da organização e atuar de forma conjunta com outros departamentos, como o de RH.
Neste artigo, você vai conhecer os sete pilares que sustentam um programa de compliance financeiro, inspirados pelas melhores práticas nacionais e internacionais e alinhados às exigências de um mercado atento à integridade.
E antes de você seguir, instigo o questionamento: o que sua empresa tem feito para transformar integridade em estratégia?
Toda estrutura de integridade começa, ou se desfaz, na postura de quem lidera. O que o mercado chama de tone at the top é, na prática, a bússola que orienta ou desorienta toda a organização.
Quando a alta liderança trata o compliance como um assunto técnico e distante, ele vira um setor incompreendido, mas quando presidentes, diretores e conselhos incorporam valores de integridade nas suas decisões, contratos e metas o departamento se torna parte da cultura organizacional.
A postura da alta gestão é refletida na postura cotidiana, por exemplo quando o líder vai até o jurídico antes de fechar uma negociação ou contratação e também, quando rejeita atalhos fiscais. Esses gestos mostram que integridade não é uma visão de marketing e que a organização é comprometida com a sua integridade.
O compromisso da liderança é o alicerce sobre o qual todos se apoiam. Sem ele, qualquer esforço posterior será frágil, cosmético, reativo. Com ele, o compliance financeiro se torna parte da estratégia, da identidade e da visão de longo prazo daquela empresa.
Por mais que a liderança esteja engajada, um programa de compliance só se materializa quando há estrutura institucional, com profissionais qualificados, autoridade reconhecida e independência funcional.
Isso significa que o responsável por zelar pela conformidade, o Chief Compliance Officer (CCO), precisa ter liberdade para agir, acesso direto à alta administração e recursos suficientes para monitorar riscos, investigar irregularidades e implementar melhorias.
Um CCO que depende da aprovação prévia de áreas que ele deveria fiscalizar tem postura limitada. Um setor de compliance que não participa das decisões financeiras mais críticas é invisível, e invisibilidade, nesse campo, torna o setor vulnerável.
A Resolução nº 4.595/2017 do Banco Central define essa independência como exigência regulatória mínima para instituições financeiras, o que vem se expandindo para outros setores por boas práticas e autocorreção de mercado.
O relatório do Comitê de Basileia também reforça que a função de compliance deve estar separada das áreas de negócio e ser protegida contra conflitos de interesse.
Em um programa eficaz, o compliance financeiro atua com autonomia para:
A estrutura também envolve recursos humanos e tecnológicos adequados. Um compliance precisa de sistemas de monitoramento, ferramentas de background check e dados integrados, além de uma equipe multidisciplinar, que combine conhecimento jurídico, fiscal, contábil e de governança.
Um programa de compliance financeiro que não monitora riscos com regularidade existe, mas não tem sentido existir, pois a única forma de manter a integridade financeira sob controle é mapear, atualizar e priorizar os pontos de vulnerabilidade com frequência, especialmente aqueles que não estão à vista.
A avaliação de riscos (ou risk assessment) deve o ponto principal do programa. Ela define onde estão as maiores ameaças, qual o grau de exposição da empresa e onde os controles precisam ser mais rígidos. E isso inclui, obrigatoriamente, os riscos financeiros.
Estamos falando de:
Empresas com maturidade em compliance aplicam matrizes de risco, atualizadas regularmente, e as integram com ferramentas de monitoramento contínuo.
Além disso, o mapeamento de riscos deve dialogar com outras frentes da empresa, como departamento de recursos humanos, auditoria interna, controle financeiro, fiscal e tributário, e ser capaz de adaptar-se à realidade do setor.
Um bom programa de compliance financeiro precisa se traduzir em políticas e procedimentos claros, objetivos e aplicáveis, que guiem a conduta da empresa com firmeza e coerência, principalmente nas áreas que lidam com decisões financeiras sensíveis.
É preciso construir um conjunto de políticas vivas, que orientem desde a aprovação de despesas e contratos, passando pela prestação de contas e relacionamento com fornecedores, até a conduta com agentes públicos e a atuação em ambientes regulados.
Esses documentos precisam responder algumas perguntas, como:
Para funcionar, as políticas precisam ser específicas para o negócio, atualizadas conforme mudanças de legislação (como a Lei 12.846/13, a Lei nº 9.613/98 de lavagem de dinheiro ou instruções da CVM), e revisadas periodicamente.
E acima de tudo: precisam ser compreendidas pelas pessoas que as aplicam, inclusive as que tomam decisões no operacional.
Não basta escrever boas políticas e esperar que o time cumpra. No compliance financeiro, o verdadeiro desafio não é apenas ter normas, mas fazer com que elas sejam absorvidas, interpretadas corretamente e aplicadas de forma coerente por todas as áreas da empresa.
O cenário financeiro é técnico: cheio de exceções e conceitos complexos. Por isso, os colaboradores das áreas financeira, contábil, fiscal e administrativa precisam ser capacitados não apenas sobre leis e normas, mas sobre o impacto que seus próprios atos têm na reputação, na legalidade e na sustentabilidade da empresa.
Treinamento eficaz não visa a repetição do conteúdo da legislação.
Ele apresenta dilemas e casos práticos, orientações e exemplos de conduta. E explica, por exemplo:
A comunicação interna, por sua vez, deve reforçar essas mensagens o tempo todo. E-mails, newsletters, murais, canais digitais, reuniões de time, dinâmicas… Tudo que pode ser usado para manter os princípios de compliance ativos no cotidiano.
Mais importante ainda: a mensagem precisa ser acessível, direta e coerente com o que a liderança pratica.
Um programa de compliance financeiro não é completo sem a existência de canais de denúncia seguros, acessíveis e efetivos.
Eles são o principal meio entre o que acontece de forma velada e o que chega até as instâncias de controle. Sem eles, desvios não são vistos.
Em ambientes onde circulam grandes volumes de contratos e dados sensíveis, confiar apenas na supervisão formal é uma brecha significativa. Fraudes, desvios e condutas antiéticas muitas vezes são percebidas primeiro por quem está imerso na operação e é onde esses canais precisam estar.
Mas criar o canal é só o começo.
Para que ele funcione de verdade, é preciso garantir:
Além disso, o canal precisa estar presente na cultura da empresa. Isso significa:
Por mais bem estruturado que seja um programa de compliance financeiro, ele só cumpre seu papel se for acompanhado e aprimorado de forma contínua.
Por isso, o último pilar é aquele que mantém todos os outros de pé: o monitoramento constante e as auditorias periódicas.
Monitorar é acompanhar indicadores, validar processos e cruzar dados para identificar se as práticas estão sendo seguidas e se fazem sentido.
Já auditar é investigar profundamente, testar controles, revisar contratos, avaliar aderência a políticas e gerar diagnósticos sobre a integridade da operação.
No campo financeiro, isso se traduz em perguntas como:
Auditorias internas e externas devem ser planejadas com frequência, com escopo e independência técnica. Elas como uma ferramenta de melhoria contínua.
Mais do que cumprir normas, o compliance financeiro quando estruturado com base nesses sete pilares, deixa de ser uma obrigação protocolar para se tornar uma estratégia de crescimento.
Em um ambiente empresarial cada vez mais exigente, ético e regulado, empresas que tratam a conformidade apenas como uma burocracia correm riscos. Afinal, confiança não se compra.
Se você ainda vê o compliance como custo, talvez esteja olhando do ponto de vista errado. Estruturar um programa eficaz é reduzir riscos, mas também ganhar velocidade, autoridade e legitimidade no mercado.
Quer saber como transformar esses pilares em ação dentro da sua empresa? Conheça nossas soluções para estruturar, fortalecer ou revisar seu programa de compliance financeiro com dados, inteligência e tecnologia.
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Monise Soares
Estagiária de Marketing com foco em Produção de Conteúdo sobre Gestão de Riscos na BGC Brasil e estudante de Marketing Digital no Centro Universitário Internacional (UNINTER).
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